Eu diria que, na minha lista de todos os meus livros favoritos (e são poucos; sou exigente) com certeza "Famílias terrivelmente felizes" marca presença e se destaca como uma verdadeira façanha literária. Também diria que Marçal Aquino está na minha lista de escritores favoritos também. Mesmo que até agora só tenha lido um livro dele (este ao lado). Mesmo que talvez Aquino oscile entre livros sem mais e obras primas (a exemplo da coleção VagaLume). E mesmo que a crítica o considere da geração de 90.
O que não podemos é desconsiderar o fato de que Marçal Aquino tem estilo. Ou pelo menos um mistura que envolve: um pouco de conflitos rurais transportados do regionalismo para o ambiente semi-urbano, um pouco de cacos expressivos de realismo às avessas, e um pouco de estilo próprio. Tudo isso mesclado em um enredo que lembra os filmes de Tarantino.
O que não podemos é desconsiderar o fato de que Marçal Aquino tem estilo. Ou pelo menos um mistura que envolve: um pouco de conflitos rurais transportados do regionalismo para o ambiente semi-urbano, um pouco de cacos expressivos de realismo às avessas, e um pouco de estilo próprio. Tudo isso mesclado em um enredo que lembra os filmes de Tarantino.
Exceto seus contos da década de 80 pra 90, onde há um certo lirismo inicial. Ou, como definiu Cristovão Tezza, "o imaginário da rebeldia poética contra o sistema, em que a figura do escritor terá sempre, ao mesmo tempo, a aura do épico e do fracasso..."
Para ser sincero, eu percebi mesmo a figura do escritor nos contos de 80. Os contos "Onze jantares", "A família no espelho da sala" e "Para provar que o escritor, provocações à parte, está de fato liquidado" realmente traz o personagem escritor. E geralmente é sobre a situação "Arte vs Mercado", mas também há outras coisas por aí, talvez, que eu só poderia citar se pesquisasse o contexto da época de 80, quando as narrativas foram escritas. Vamos pular essa parte.
O que importa dizer é que mesmo aí, no lirismo destes contos, o leitor percebe que Aquino encontra seu espaço narrativo e começa a fazer alguma coisa original, inovadora. Algumas histórias, por exemplo, são narradas com fragmentos, divididos por partes e até contados por diferentes personagens. Ou pelo narrador-observador (narração em terceira pessoa) em diferentes épocas (flashback). E nem precisa ser aquele relato mecânico de contar histórias que já vimos em muitos livros. A parte 6 de "onze jantares", por exemplo, é uma lista. A parte 5 é um cardápio ao passo que o fragmento 8 são depoimentos. É uma mania de escrever os contos em tempo real, meio que vivendo o livro. Aquino "acha" a história enquanto está escrevendo! E o faz isso com um estilo que surpreende, sobretudo nos diálogos, pela sua economia e fluência.
Tem outros mais, contudo, não dá para abordar tudo de uma só vez. Eu sempre digo que blog literário é para discutir literatura, mas se você não for sucinto, a idéia de cultura vai pro buraco...
Tem outros mais, contudo, não dá para abordar tudo de uma só vez. Eu sempre digo que blog literário é para discutir literatura, mas se você não for sucinto, a idéia de cultura vai pro buraco...
O trecho abaixo foi retirado diretamente de "Famílias terrivelmente felizes" sem tirar nem por (principalmente nos sinais gráficos, parataxes e índices de fala, que em gramática pode constituir erros de sintaxe, mas que escritores podem abordar como recurso de estilo. Portanto, recomendo ler pausadamente.)
Conto
Onze jantares
Parte 4: GEMA, CLARA, GEMA
"Quando quer, ele é um cara bacana. Chega até a ser gentil. O que atrapalha são as manias. E essa história de ser metido a escritor. Mas a maioria das coisas que escreveu eu não entendo. Faz uns seis meses que fala do romance que está fazendo. Vai se chamar Gema, Clara, gema. Eu ainda não li nada; ele não mostra antes de acabar, outra mania. Seria bom, eu poderia até dar uns palpites, quem sabe. Mas, com um título desses, o que se pode esperar? Pornografia, no mínimo. Já falei para ele escrever uma história romântica, de amor mesmo. Pode até ser meio apimentada. E com uns crimes, um suspense, sei lá. Faria sucesso na certa. Mas ele me respondeu que isso não é literatura. E os livros do Sheldon, do Simmel, do Harold Robbins e outros que eu gosto, ele vem dizer que são subliterários? Então que fique aí, escrevendo essas maluquices e vivendo de preparar currículos, teses e trabalhos para os outros. Não entendo esse cara."
Marçal AquinoFamílias terrivelmente felizes pag 23Editora Cosac e Naify
4 comentários:
Adorei o post, gostei muito ^^ Bem estruturado e criativo.
Famílias terrivelmente felizes, me parece um título de crítica ao invés de um livro "romântico". Terei de ler para sanar a dúvida! Gostei da dica! =)
Permita-me sanar sua dúvida.
Sim, "Famílias terrivelmente felizes" é um livro de crítica, e não romântico (o que já é óbvio com um título irônico desses), e que está, principalmente, inserido no atual contexto contemporâneo em que as relações entre Cinema e Literatura estão cada vez mais estreitas.
O cinema, "nas antigas", buscava a "idéia" narrativa através da literatura (e também no teatro). Hoje, a literatura se apropia das técnicas cinematográficas. E esse processo de trocas simbólicas (de aspectos formais, de técnica, de tendências, de temas e etc,) deu muito certo e persiste até hoje.
Se você ler "Famílias terrivelmente felizes" perceberá um intimismo inicial que vai se transformando para fortes histórias de ação, sempre dramáticas e surpreendetes. E a reação imediata do leitor é relacioná-los aos romances policiais norte-americanos, ou aos filmes de Quentin Tarantino. O que é fato. Aquino, o próprio, já afirmou que encontra inspiração na arte cinematográfica. Um cinéfilo de primeira.
Agora sobre a crítica:
Num ambiente contemporâneo como este, em que predominam a violência generalizada, seja no cotidiano, na ficção ou na disputa e manutenção da hegemonia política, sabe-se que, uma hora ou outra, alguém acabaria por problematizar o tema nas produções culturais. E, aqui na nossa sociedade, onde a violência atingiu até as edulcorada novelas de TV, podemos afirmar que o tema instiga uma série de autores e cineastas brasileiros. Instigar para quê? Ora, para criar um conjunto de produções artísticas que induzam o leitor/espectador a assumir uma postura crítica. E é isso que há em "Famílias terrivelmente felizes" (também em muitas outras produções culturais). Em sintese, Aquino problematiza a questão da violência por meio de narrativas inovadoras. O autor 'se aprofunda nas causas ou consequências da violência desenfreada e mostra, em sua narrativa, momentos em que as regras socias se tranformam em opressões e imposições.'
:D
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